terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Porque te amo com todos os sentidos

VISÃO
Primeiro foi o olhar. 
O meu e o teu. Cruzou-se há longo tempo. Os meus olhos (re)encontraram-se com os teus na esquina da vida e cumprimentaram-se como se sempre se tivessem faltado. 
Olhámo-nos e descansámo-nos. Olhámo-nos e sorrimo-nos.
O nosso olhar sempre foi aquilo que nunca conseguimos esconder. Derreto-me quando te olho. Desfazes-te quando me vês. Eu fico uma miúda indefesa e tu um puto envergonhado. Devolves-me um sorriso rasgado nos olhos e eu ofereço-te de volta o teu olhar doce de menino. O nosso olhar é o mais forte dos nossos sentidos e aquele que nos trai.
E é o que nos resta. O nosso olhar. Onde calados tudo dizemos. Onde no silêncio tudo é mostrado. Onde a um olhar triste é devolvido um olhar inseguro.
E os meus olhos vagueiam por aí na ânsia de te encontrar. Na vontade de te rever. Na esperança de reaver o brilho que tivemos. No meio do mundo, os meus olhos continuam a procurar pelos teus: incessantemente.

AUDIÇÃO
A tua voz. Calma e pausada. Mas principalmente as tuas palavras. Sempre cheio de certezas. Sempre seguro de si e das suas convicções. Directo e sem falsos pudores, mas sempe gentil, educado e atento. Foi a tua voz que me cativou com todas as palavras que articula. Foi a tua voz que te deu a conhecer-me.
Mas a tua voz. Ao ouvido. Como uma das tantas músicas que ambos gostamos. Dizendo aquilo que o mundo não ouve. A tua voz entrando em mim. A tua voz dizendo aquilo que eu própria calava. Porque me conheces. Porque ambos pensamos de igual forma. Porque somos um só em corpos distintos.
Mas a tua voz. A tua voz que me soa como se estivesse dentro de mim. Consegues ainda ser a voz da minha consciência. A tua voz doce e firme continua a ecoar na minha mente. Mas principalmente as tuas palavras. Sei-as de cor. Vírgula por vírgula. Dúvida por dúvida. Certeza por certeza. Odeio as tuas dúvidas e abomino as tuas certezas.
A tua voz. Aquela que eu quero ouvir pela manhã a dar-me os bons dias. A voz que eu espero que me conforte e me ralhe. A voz que agora eu só oiço calada. Silenciosa.
Sabes que ainda te oiço, todas as noites, ao ouvido a dizer-me "Dorme bem, meu amor"?

OLFACTO
Não foi fácil. Sempre discreto, guardas só para quem deixas aproximar que conheça o teu perfume. E foi preciso antes despertar outros sentidos para que eu desse pelo teu cheiro.
Primeiro decorei o teu perfume. Igual a tantos outros, mas que em ti me enebria. Depois entranhei o teu cheiro em mim. Esse odor que conheço de olhos fechados. Inigualável. Que mas ninguém tem. Ficou impregnado na minha mente. Na minha pele. Nos meus lençóis. Esperado nos meus dias e ansiado nas minhas noites.
E decorei o nosso cheiro. A nossa mistura de odores que exalamos juntos. Pura animalidade e marcação de território. Puro amor e conquista. Desejo carnal e sentimento real. Suores, salivas, lágrimas.
Basta que passemos um pelo outro para que os nossos cheiros se misturem. Posso passar por ti sem te ver que te reconheço. Posso passar por onde já não estás e saber que ali permaneceste.
Tenho o teu cheiro comigo. Discreto. Inebriante. Único. Doce e terno. Selvagem e animal.
E tu? Ainda te recordas do meu perfume? Do meu cheiro contigo? Do nosso odor juntos? 
E tu? Ainda guardas o meu cheiro em ti?

TACTO
Primeiro um leve toque de um cumprimentar, enquanto o teu cheiro se aproximava de mim. Um simples roçar de braço com braço passou a fazer-me estremecer. Quando, à mesa, começamos a perceber que aquela perna está encostada na nossa e que assim deixamos de conseguir ter uma conversa coerente, começamos a desconfiar que algo se passa. Com o tempo o pele com pele passou a queimar. Um normal cumprimento na face parecia demorar eternidades. A devolução de um objecto era a desculpa para as nossas mãos quase se agarrarem. 
Todas as desculpas serviam para o nosso toque se demorar no outro. Até que se demorou mesmo. E ficou. O teu toque em mim. Que me estremece. Que que arrepia e faz deixar de pensar. Que me acelera o batimento cardíaco pelo simples facto de pensar nele. As tuas mãos passeando em mim e percorrendo o meu corpo. As minhas mãos em ti descobrindo cada pedaço de pele. A pele na pele do outro. O toque dos meus cabelos em ti. O toque dos teus lábios em mim. O sentir-te em mim. Dentro do mais profundo de mim, onde só a alma consegue chegar.
O sentir-te hoje, ainda, como ontem.
E tu? Ainda te recordas do meu toque em ti?

PALADAR
O último dos sentidos a ser posto à prova. Aquele que só quem nos consegue despertar todos os outros tem o prazer de conquistar. Paladar. O teu gosto. Aquilo a que me sabes. O imediatamente antes do querer e ter. O crescer de água na boca como quando um doce se nos é colocado à frente dos olhos, pronto a ser degustado. 
O nosso primeiro beijo foi aguardado. Estudado. Ansiado. Provocado. Ambos sabíamos que era ali, naquele exacto momento que teria de acontecer. Soubeste-me ao céu estrelado daquela noite já de si quente. O nosso primeiro beijo soube-me, no imediato, ao descansar da vontade. À vitória aguardada. Ao culminar da espera e da dúvida. Um beijo tímido, lento e sentido. No imediato, porque todos os seguintes me passaram a saber a urgência! A vontade e ânsia. Como que se selado por um beijo o nosso amor fosse impenetrável. Como que se quisessemos suprir o tempo perdido. Como se amanhã os nossos lábios se fossem ausentar. E ausentaram-se. Os meus lábios ausentaram-se dos teus. Mas ainda guardo o teu sabor. E quando se degusta a melhor das iguarias, não nos é possível voltar a provar segunda escolha.
Sei de cor o sabor do teu beijo. Do nosso beijo. Não há outro como o nosso. 
E tu? Se te fecharem os olhos, sabes ou não o sabor do meu?
(Rita Leston)



1 comentário: