(Quando os sentidos viajam sem o corpo, é Saudade)
Dizem que olhar não morde. Que o olhar não morde.
E não morde. Não morde mesmo.
Mas arranca pedaços. Se arranca!
Leva pessoas, aos pedaços, pedaço por pedaço,
deixando corpos que passam a ser só corpos – sem os sentidos.
O teu olhar arranca-me, aos pedaços, pedaço por pedaço,
deixando-me assim: só corpo
– sem o tacto que quer a tua pele,
sem o olfacto que vai para junto do teu perfume,
sem a visão que vai para a frente dos teus olhos,
sem a audição que vai para junto dos teus lábios
e sem o paladar que vai para dentro da tua boca.
O teu olhar não morde. Mas arranca pedaços de mim, um por um.
O teu olhar, aquele teu último olhar, o que me deste quando vim,
ou muito me engano, ou vai-me levar de volta, por inteiro
– e só falta o corpo – e já falta pouco,
mas é um pouco que é muito. Quanto mais o tempo passa
mais a falta do teu olhar me arranca daqui. Se arranca!
[Faltas-me tanto que, pedaço a pedaço, me desintegro,
acreditando que o olhar que me arranca daqui,
pedaço por pedaço,
é o que me refaz, quando eu voltar.]
(Sérgio Lizardo)
Não conhecia mas gostei muito. E a imagem escolhida está perfeita :)
ResponderEliminarIPC,
ResponderEliminarÉ um poema recente de um autor cá do norte que eu gosto bastante :)
Sigo-o aqui https://www.facebook.com/sergio.lizardo.escritor
Tb gostei muito da imagem e achei-a perfeita para este poema :)
Beijo e uma optima semana