quarta-feira, 25 de março de 2015

Facto!

"Que porcaria de textos são estes?", questionou na gravação a voz de Axe! Seth.

"Eu pedi-vos relatórios a enumerar os custos e benefícios da moeda única e vocês... vocês entregam-me esta porcaria?"

"Mas, juiz Seth, estas são as conclusões a que chegámos", respondeu um dos economistas. "Falámos com muita gente e consultámos todos os estudos sobre uniões monetárias e existe um consenso quanto a essa questão: sem união política, a moeda única europeia não vai funcionar! Não há volta a dar ao problema. uma união monetária beneficia sempre o centro e prejudica a periferia. A união monetária que criou o franco em França por exemplo, beneficiou Paris e prejudicou a Bretanha e o Midi. Em Espanha a peseta beneficiou Madrid e penalizou a Galiza e a Andaluzia.

Sempre que há uma união monetária, segue-se uma transferência de recursos da periferia para o centro. Isto implica que a união monetária só é viável se o centro depois estiver disposto a fazer transferências financeiras para a periferia, de modo a compensá-la pelas suas perdas. Mas sem união política este passo não será dado e as periferias desintegrar-se-ão." "Está a dizer que os países periféricos não aguentam uma moeda única europeia?"

"Aguentam se houver união política que permita as transferências compensatórias", respondeu o economista. "Caso contrário, não aguentam. E há outra coisa: os países periféricos terão de fazer reformas urgentes no sector labora! para suportarem o impacto da competição internacional. Não se esqueça que eles vão entrar numa moeda forte e não a poderão desvalorizar para reequilibrar as suas contas externas. Sem reformas, vão acabar por ser esmagados pelas importações. Além do mais é preciso que no espaço da moeda única haja mobilidade labora!, flexibilidade de salários e de preços e integração orçamental, coisas que não existem agora e não existirão porque não se vislumbram quaisquer planos para as criar."

"Então qual é a vossa conclusão final?"

"A moeda única, tal como está a ser concebida, não se vai aguentar. À primeira crise poderá desmoronar-se como um baralho de cartas. E se o euro não sofrer um colapso rápido, os países da moeda única irão saltitar de crise em crise numa agonia sem fim até que a união se desfaça."

"Oiçam, isto não pode ser assim", disse o comissário europeu por fim, a decisão tornada. "Refaçam-me estes relatórios e mostrem só as vantagens da criação da moeda única. Parece-me que..."

"Mas, senhor juiz, isso não pode ser feito dessa maneira!", protestou um segundo economista. "Ternos o dever de alertar os decisores e a opinião pública para os grandes perigos da arquitectura que está a ser pensada para o euro. Se escrevermos um relatório nos moldes que nos pede..."

"Silêncio!", cortou Axel Seth num tom agreste. "A decisão está tomada. O projecto da moeda única europeia irá avançar, custe o que custar! Quero um relatório que só mostre as vantagens da união monetária!"

"E o que acontecerá depois, quando o euro entrar em colapso?"

O comissário europeu encolheu os ombros.

"Quando isso acontecer, meus caros, provavelmente já cá não estaremos", sentenciou com um sorriso despreocupado. "Quem estiver nessa altura no poder que se desenvencilhe! E os contribuintes que paguem, claro!"

(José Rodrigues dos Santos in – A Mão do Diabo)


2 comentários:

  1. Pá, que injustiça! é tão fixe termos o Euro!

    LOOOOOOOOOOL

    Pois é, infelizmente o Euro está a entrar em colapso - como se pode facilmente ver pela Grécia - a a opção de sair do Euro, a curto prazo penaliza qualquer governo que tome essa decisão porque, de repente, as pessoas ficariam com o seu rendimento reduzido a metade ou menos, o que causaria um caos social, com hipotecas a não serem pagas e mais um colapso da banca que, para ser salva teria de ser nacionalizada com todos os custos que isso acarreta o que levaria a que a moeda fosse ainda mais desvalorizada e os rendimentos ainda mais reduzidos, isto para além de que uma desvalorização tão forte e repentina levaria também a uma inflação altíssima.

    O interessante é que as pessoas que arquitectaram este buraco ainda cá estão, mas não são responsabilizadas pelo que fizeram!

    Ou será que a introdução do Euro, nestes moldes, teve como objectivo vir a forçar a existência de uma federação Europeia, criando assim o tal veiculo de transferência para a periferia sob um governo e orçamento unicos?
    É que uma federação na Europa é algo impensável para a grande maioria da população...
    ...até ser confrontada de facto com o risco de fome e pobreza caso vá contra a corrente...

    Não será o Euro uma forma de pressão? Se todos sabiam o que ia acontecer, e acredito que sabiam, porque é que seguiram em frente?
    Será que todos os politicos da europa são o João Vieira Pinto? "Estávamos à beira do precipício, mas felizmente demos um passo em frente..."

    :)

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    1. O mais incrível disto tudo é que até houve, de facto, gente com senso de responsabilidade, que alertou para as consequências de uma moeda única, numa Europa em que as diferenças se sobrepõem às igualdades em larga escala!

      Acredito, sim, que todos sabiam disto! Se não o soubessem, antes de avançarem tinham dado ouvidos aos especialistas na matéria e não desta forma que não foi mais do que uma teoria da conspiração!

      De facto, as pessoas que o arquitectaram ainda cá estão, mas quem é que as vai responsabilizar? Tu? Eu? Simples feudais que somos?

      As leis foram criadas à imagem e semelhança deles, (mascaradas é claro, com a ideia de que são para o bem comum), para que eles possam fazer tudo em prol dos seus benefícios e ficarem imunes quando a corda rebenta!
      Por isso é que ouvimos frases do género “o pais está melhor, as pessoas é que não” porque para estes mentecaptos o(s) país(es) são só eles e não o resto da população que são só as “maquinas humanas” que eles utilizam para sustentarem os seus desejos maquiavélicos!

      E o Euro não é mais do que o melhor exemplo disso!
      :)

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