terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Ele sempre ouviu dizer que, para apimentar uma relação, os eles e as elas devem dizer-se palavras feias. Especialmente sopradas, humidamente, ao ouvido. Sempre ouviu dizer que isso ajuda a manter a chama viva. Mentira! Tão grande mentira! Ele e ela há muito que se dizem palavras feias, e sempre foi depois de se dizerem essas palavras feias que foi como se duas chamas, cada uma no centro do peito de cada um deles, ainda que se mantivessem acesas, os deixassem frios nos lugares onde os peitos se juntam e nos lugares onde os dedos se encaixam. ‘Adeus’ é, de entre todas as palavras que há muito se dizem, a mais feia. E vêm-se dizendo outras palavras horríveis como ‘até amanhã!’, ‘até para a semana!’, ‘vou ter saudades tuas!’ e outras que não temperam a relação com picante, antes a temperam com um amargo que sabem que é por pouco tempo, mas que sabem mal no palato, até ao beijo lânguido que as lave das suas línguas com um doce-picante que vem com as palavras bonitas ´voltaste, amor!’, ‘abraça-me!’, ‘ficas?! e ‘fico-te sempre aqui!’. Especialmente com ‘Fico-te sempre aqui!’: com uma mão dele sobre a meia esquerda da parte anterior do corpo onde o coração dela mora. O que mantém viva a chama é o dizerem-se palavras bonitas e, na impossibilidade de elas serem ditas e trocadas, da memória do mais inesperado ‘amo-te’ dito ao dobrar da esquina de outra coisa dita qualquer, e no regresso, com um amor tão flamejante como o de antes de um tremendo ‘Tenho mesmo que ir!’.
Palavras para ti: “Para ti, hei-de sempre voltar!” – Acha-las bonitas, amor?

(Sérgio Lizardo)


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