sexta-feira, 27 de maio de 2016

Faço uma vénia...

...ao autor deste texto e orgulho-me em divulgá-lo aqui no meu cantinho!


"VÃO À MERDA!

Lembram-se quando eram meus colegas de escola? 

Quando vos deixava copiar nos testes de português ou quando vos escrevia as cartas no dia de São Valentim para as vossas namoradas por ter uma letra mais bonita que a vossa? 

Lembram-se quando me pediram para vos assinar o dossier, naquela altura em que comecei a trabalhar em moda e vocês achavam que eu era “fixe”? 

Eu lembro-me. Lembro-me tão bem… 

Os tempos agora são outros; nós já não somos colegas e a minha letra “redondinha” já não vos serve de nada. 

Agora sou o “Máriozinho” ou o “Márão” por quem vocês gritam na rua em tom jocoso, como se eu tivesse de envergonhar-me do nome que tenho. 

A acompanhar os vossos gritos está sempre uma coreografia aberrante, que muito honestamente não faz jus à minha pessoa – sou tão melhor que isso, meus queridos. 

Toda a gente na rua tem de saber que eu sou esse tal “Gay” que vocês conhecem. 

Como é óbvio, a sociedade agradece-vos o serviço público de alerta, não vá o prazer de levar no cu ser contagioso (e até aí vocês se enganam!). 

Eu olho para baixo. 

Não por vergonha de mim – já lá vai o tempo! Mas por vergonha de vocês. 

Gritar o nome de alguém está associado a devoção ou fanatismo; querem dizer-me alguma coisa? 

Não me fechei em armário nenhum. Mas agora lembro-me de que fui fechado numa casa de banho a cheirar a mijo por todo o lado durante duas horas por suspeitarem, e sublinho, SUSPEITAREM, que era gay. 

Foi o último dia em que me envergonhei de ser quem sou, ou o que sou. 

Quando me perguntaram, no dia seguinte, como é que eu estava e como é que tinha sido, eu sorri. Sorri tanto! 

Estava melhor do que nunca – tal como estou hoje. 

Vocês os dois que gritam o meu nome não percebem porquê; nasceram com o cu virado para a lua, com o “dom” de ficar com tesão quando vêem uma “gaja boa” de minissaia. 

Eu fui fechado num wc. Eu “levei nos cornos” por ter trocado olhares com um tipo à saída de uma discoteca – tudo porque ele me confundiu com uma rapariga (como se eu pudesse adivinhar o que lhe ia na cabeça!). 

Eu fui o maricas. O gay. O paneleiro. A bicha. 

Meus “queridos”, acham mesmo que conseguiríamos falar de igual para igual? 

Continuem a gritar o meu nome na rua, mas agora depois de eu ter escrito isto, façam-no com uma certeza: eu jamais irei gritar o vosso. 

E com a minha letra bonita vos escrevo um ainda mais bonito – “Vão à merda!”."

4 comentários:

  1. E assim se demonstra, o que é ser um ser humano de qualidade.
    Tiro-lhe o chapéu

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  2. Pois...

    ...não deixa de ser curioso que a maior parte das bestas que tomam este tipo de atitudes parece ter um medo anormal de poder ser identificado com elas!
    Aliás, pensando bem, as pessoas que mais tomam certas atitudes são as que mais sofrem delas. A homofobia, por exemplo, só se pode justificar com um medo enorme de também se ser gay!
    Qualquer gajo sem pancas sabe bem o que quer e não é por falar ou se dar bem com um gay que é menos homem!
    Quando vejo uma reacção de repulsa demasiado forte só penso até que ponto aquela pessoa não terá medo que nas circunstâncias certas seja levado a "cair em tentação"!
    Tal como os primeiros a acusar, por exemplo, num atendimento, quem os está a atender de racistas são aqueles que por norma não ficam nada felizes por estar a ser atendidos por pessoas de uma cor diferente da sua...

    Incongruências dos seres (quase) humanos...

    :)

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    1. ... é mesmo, "dos seres (quase) humanos" porque se o fossem não teriam este tipo de atitudes!

      :)

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